quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Fronteiras do Universo



Neste post eu reclamei da falta de criatividade que vem rondando o universo literário e cinematográfico de Ficção Científica, Fantasia e Aventura. Pois o post de hoje é sobre uma série que é o completo oposto disso: me cativou justamente pela inovação e a audácia!
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Outra coisa que a diferencia das outras obras é que não há 'mocinhos' e 'vilões'. Agente pode até ter a sensação, no início, de saber quem é do bem e quem não é, mas conforme se vai avançando na história tudo fica mais complexo, as situações vão mudando e os personagens vão mostrando suas outras facetas de modo que percebemos que cada um quer apenas concluir seus objetivos e lutar por aquilo que acredita.

Esse texto eu comecei a escrever logo depois de ter lido o último livro, A Luneta Âmbar:


02 de Outubro de 2009 - Sexta-Feira
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Eu finalmente terminei de ler a Trilogia "Fronteiras do Universo". Só me faltava ler o último livro. Tecnicamente terminei de ler hoje, pois eram 3h30 da manhã quando o fechei na última página e o guardei na gaveta. Se tivesse sorte estimava lê-lo em 5 dias, mais ou menos 100 páginas por dia. Li em 4.
O ritmo da leitura flui tão bem que quando se vê já avançou mais do que imaginava. E ontem à noite quando o abri para ler antes de dormir fui percebendo ao longo da leitura que não conseguiria dormir sem saber o final. Não sossegaria se não terminasse e por consequência o dia seguinte seria péssimo.

A princípio não pretendia fazer nenhum comentário. Procurei lê-lo de forma discreta, sem carregá-lo por aí e sem fazer observações. Para quem já conhece pelo menos um dos livros da série, o motivo é óbvio: polêmica religiosa! E das mais fortes...
Mas como eu poderia deixar de falar dele aqui, se foi a inspiração para o nome do blog?
Como eu expliquei lá no 1º Post, esse nome [Pereus] saiu em um teste que fiz no site do filme "A Bússola de Ouro" para descobrir qual seria o meu daemon [ou dimon, se isso deixar alguém mais confortável.] E isso já me gerou alguns problemas...
Bem, quase um ano e meio depois de abrir este blog, finalmente soube o fim da história!

Para quem pretenda ler esses livros, deve saber que precisa ter a mente completamente aberta!
E ter consciência, o tempo todo, que se trata de uma fantasia, não de realidade. É altamente contra-indicado para fanáticos religiosos!
Até mesmo eu levei um susto quando li "A Bússola de Ouro" pela primeira vez. Achei o autor extremamente ousado e confesso que invejo um pouco sua coragem... A cada linha, a cada capítulo, a cada livro... o choque só aumentava. Mas, é tudo questão de manter a calma até o final - onde tudo se explica e fica bem óbvio mesmo que se trata de fantasia [e das bem malucas em alguns pontos].



Pra mim essa história começou quando fui assistir "Harry Potter e a Ordem da Fênix" numa sessão de fãs em São Paulo. Um dos trailers era de "A Bússola de Ouro". Me chamou a atenção não só porque parecia ser de uma história cativante... Me chamou mais a atenção a reação de algumas pessoas próximas: uma mistura de expectativa e incredulidade. Se na época eu já tivesse lido teria a mesma reação, porém eu nem tinha ouvido falar em Philip Pullman ainda.


Queria ler o livro antes da estréia do filme, só que não deu tempo ($). Vi o filme e gostei, mas achei um pouco decepcionante. Como a adaptação nunca é tão boa quanto o original, comprei e li logo depois de ver o filme. Me espantou que tivessem trocado a ordem de alguns acontecimentos e que tivessem cortado um terço da história no filme. O pior, no entanto, foi o corte completo dos verdadeiros objetivos do Magisterium... A questão religiosa, justamente o fio condutor da história toda, foi limada do filme.
A explicação é: evitar a polêmica para transformá-lo num "filme família". Não é de espantar que provavelmente as continuações não sejam gravadas: não há como continuar ignorando o ponto mais importante, pois a história ficaria sem sentido e não haveria como filmar a batalha final [e outros detalhes].

Comprei e imediatamente comecei a ler "A Faca Sutil" na AnimeDreams 2008. Achei um pouco decepcionante. Realmente é o livro mais monótono dos 3.
Demorei muito para comprar "A Luneta Âmbar" porque o preço estava alto [e de fato é o livro mais grosso da trilogia]. Até que achei vários livros em promoção no Submarino e aproveitei para completar minha coleção.

Vou começar comentando os clichês mais irritantes e óbvios que essa obra contraria [e pra mim, por isso mesmo se torna interessantíssima]:
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A Jornada do Herói


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A clássica 'receita de bolo', detectada em quase todas as histórias fictícias da humanidade por Joseph Campbell: o herói é alguém comum, ainda bem jovem, que inesperadamente se vê em uma situação que o coloca no centro de algo muito maior; inicialmente ele rejeita o fardo, mas depois acaba assumindo, pois é 'o escolhido'... e frequentemente ele tem um 'mentor', 'professor', 'instrutor' ou algo do tipo. E também é frequente que haja uma profecia sobre ele.

Não há como negar que Lyra é 'a escolhida'. Fato! Mas Lyra é diferente. Ela gosta de se meter em encrencas e aventuras. Não teme nada e, embora pareça mal criada [pudera, ela não teve uma criação familiar tradicional... se criou meio 'largada'], é muito mais esperta que um adulto, sabe como agir em qualquer situação... Ao mesmo tempo que tem uma lábia invejável para inventar e contar todo tipo de história, ela tem um coração nobre e sincero e ainda é muito inocente. Ela age mais por instinto que por astúcia.
Assim, as coisas que a empurram rumo ao seu destino acontecem de forma natural, sem planejamento e ela não se recusa em momento algum a se meter nos maiores perigos em prol dos que ama. Ao contrário, ela se joga de corpo e alma nessas situações...
Ninguém diz a ela 'quem' ela é [a escolhida], embora ela venha a descobrir por conta própria e isso não a abala nem um pouco.

Bem x Mal

Na maioria das histórias desse tipo o mal é mal e o bem é o bem. Será? Alguém já parou pra pensar que os personagens que representam os vilões também tem sentimentos?!
Em Fronteiras do Universo é impossível dizer, com 100% de certeza, quem é vilão e quem é mocinho. Há uma guerra e há 2 lados... sim. Mas há outros lados, outros objetivos em jogo, outras crenças, outras motivações, outros mundos... Nenhuma raça está completamente neste ou naquele time, pois as escolhas são pessoais.

A todo momento o jogo muda, os personagens mudam... suas decisões determinam os acontecimentos e se são 'vilões' ou 'mocinhos' naquele momento... e no fim das contas, isso também depende das suas crenças e do seu caráter, caro leitor. É o seu próprio julgamento que definirá como você enxerga os personagens. Como na vida real, eu posso 'não ir com a cara' de alguém que outra pessoa gosta.

Resumindo... os personagens criados por Pullman são muito mais 'humanos' [mesmo os não-humanos] e críveis que a maioria dos personagens de outras obras.
E alguns, mesmo no final, não temos muita certeza do que pretendia e nem se seus objetivos eram nobres ou egoístas.

Além disso, a guerra entre os poderes aqui não é bem x mal, mas ignorância x conhecimento!

Luke, eu sou seu pai!



Esse é um spoiler, mas é pequeno!
Classicamente os heróis [geralmente órfãos] são filhos de algum personagem importante... de preferência um vilão.
Não só o pai ou a só a mãe de Lyra parece ter caráter duvidoso, mas os 2. Tanto o pai quanto a mãe de Lyra são aqueles que vemos no 1º livro como vilões. E eles não aparentam muita preocupação com ela... Mas como eu disse, em FdU nada nem ninguém é o que aparenta ser.

Quem vai ficar com quem?!

Classicamente, toda obra tem que ter pelo menos 1 casal, 1 romance... de preferência arrebatador, óbvio e quase forçado. Com o perdão da palavra, é um porre!
Pullman não precisou colocar mil enfeites [como uns livros que tão na moda por aí atualmente, rs. Mas desse falo depois] para criar uma história de amor doce, leve e perfeita!

O romance em FdU [não o dos pais de Lyra ou as histórias de feiticeiras, é outra coisa] é tão sutil, que se torna muito mais bonito e cativante. Aliás, é lindissímo! E mesmo o final triste não deixa muito espaço para decepção... Afinal é fácil imaginar como as vidas desses personagens acabaram.

Ponderações Finais



Eu amei o fato de que tudo foi explicado. Não há fios soltos para martelar nossas cabeças. A trilogia é completa em si mesma.
Entendemos, finalmente, o que exatamente é um daemon, o que exatamente é o tal [ou sombra, ou sraf], porque as feiticeiras podem se separar de seus dimons, o que são e de onde vêm os espectros e por aí vai...



Outro ponto excelente é observarmos o gradual amadurecimento de Lyra. Como ela se transforma de criança em uma jovem dama. Pullman teve a delicadeza de mostrar isso não da maneira óbvia e fisiológica, e sim como uma mudança interna em Lyra: a mudança dos sentimentos. Como ela passa a compreender a si mesma, os outros e o mundo de uma maneira nova.
Pois, convenhamos, realmente essa mudança ocorre conosco de forma gradual e lenta. Não importa como o nosso organismo esteja se desenvolvendo... a mudança real só acontece quando nos sentimos diferentes.

Por fim, o que eu mais gostei foi que a moral da história é aquilo que eu mais defendo: não somos nada sem conhecimento!
O tempo todo a guerra nesse livro foi entre os gananciosos, aqueles que queriam controlar o conhecimento para si, para ter poder e que disseminavam a alienação versus aqueles que defendiam a liberdade de pensamento, o livre arbítrio e, acima de tudo, o conhecimento como a melhor [e única] ferramenta para a evolução das espécies conscientes.

Sim, como eu disse antes... levei um choque inicial... tem coisas que me são estranhas e nem com absolutamente tudo eu concordo [mas eu continuo com a minha política de não falar sobre religião, por isso não vou comentar mais nada a respeito!]... Mas esta trilogia e, em especial, este livro [A Luneta Âmbar] excedeu minhas expectativas.
Não posso dizer, entretanto, que recomendo, porque não é um livro para todos os públicos... Acho que nem todos estão preparados para essa leitura.
Se quiser arriscar, fique à vontade...



Quer uma 2ª opinião? Blog Eu Li Esse Livro.

4 comentários:

Anônimo disse...

me deu vontade de ler a trilogia, aliás nem sabia que eram três livros!
Bjos e obrigada pela visita lá na CF!

Heleninha

nada complicada disse...

Gosto de livros assim, fantasia com fundo de realidade, fiquei com vontade de ler...

Bjoca

PS.: gostei muito do blog

Shadowcat disse...

Estou só esperando baixar o preço pra pegar os livros, pois já li o 1º e detesto deixar pela metade...e sinceramente amei!
Tem uma sequência de livros que adoro, "As Brumas de Avalon" que é dividido em 4 livros...se quizer souber a história poderia buscar em algum site de pesquisa[pois sou horrivel pra resumir histórias] e se ñ me engano tem no submarino por 39,90 ou 4 livros...
=*

Wagner disse...

Eu assisti esse filme, e não sabia que o livro havia sido publicado no Brasil, nem que é uma trilogia. Agora deu vontade de ler.

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