segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Fantasia: "Infantil" x "Adulta"

Esse é um daqueles posts em que faço um compilado de assuntos e comentários que fiz em outros cantos da internet, que acabo trazendo para cá por achar pertinente e relevante. Aviso de antemão que baterei novamente em algumas teclas chatas e que fui mais informalmente ácida do que costumo ser aqui.


Tudo começou quando um amigo postou esse texto de C. S. Lewis (eu confio que seja de fato dele):

"Hoje em dia, a crítica moderna usa o adjetivo 'adulto' como marca de aprovação. Ela é hostil ao que denomina 'nostalgia' e tem absoluto desprezo pelo que se chama de 'Petr Panteísmo'. Por isso, em nossa época, se um homem de 53 anos admite ainda adorar anões, gigantes, bruxas e animais falantes, é menos provável que ele seja louvado por sua perpétua juventude do que seja ridicularizado e lamentado por seu retardamento mental.   
Mas os críticos para quem a palavra "adulto" é um termo de aplauso, e não um simples adjetivo descritivo, não são nem poder ser adultos, Preocupar-se em ser adulto ou não, admirar o adulto por ser adulto, corar de vergonha diante da insinuação de que se é infantil: esses são sinais característicos da infância e da adolescência, E, na infância e na adolescência, quando moderados, são sintomas saudáveis. É natural que as coisas novas queiram crescer. Porém, quando se mantém na meia-idade ou mesmo na juventude, esse preocupação em 'ser adulto' é um sinal inequívoco de retardamento mental. Quando eu tinha dez anos, eu lia contos de fadas escondido e ficava envergonhado quando me pilhavam. Hoje em dia, com cinquenta anos, leio-os abertamente. Quando me tornei homem, deixei para trás as coisas de menino, inclusive o medo de ser infantil e o desejo de ser muito adulto. 
A visão moderna, a meu ver, envolve uma falsa concepção de crescimento. Somos acusados de retardamento porque não perdemos um gosto que tínhamos na infância. Mas, na verdade, o retardamento consiste não em recusar-se a perder as coisas antigas, mas sim em não aceitar coisas novas. Hoje gosto de vinho branco alemão, coisa de que eu tenho certeza de que não gostaria quando criança; mas não deixei de gostar de limonada. Chamo esse processo de crescimento ou desenvolvimento, porque ele me enriqueceu: se antes eu tinha um único prazer, agora tenho dois. Porém, se eu tivesse de perder o gosto por limonada para admitir o gosto pelo vinho, isso não seria crescimento, mas simples mudança. Hoje em dia já não gosto somente de contos de fadas, mas também de Tolstói, Jane Austen, Trollope, e chamo isso de crescimento; se tivesse precisado deixar de lado os contos de fadas para apreciar os romancistas, não diria que cresci, mas que mudei."  
(C.S. Lewis)
Bem, a partir daqui postarei um compacto dos meus comentários que rolaram em conversa com amigos via FB:

Perfeito. E é por isso que DETESTO 'Crônicas de Gelo e Fogo' e '50 Tons'.
Um excesso de violência e sexo explícito e não apenas explícito - porque dependendo da situação faz sentido -, mas principalmente GRATUITO, desnecessário. Isso é apenas para encher a boca pra dizer que "é romance adulto" ou "uma fantasia adulta", afff...

Desnecessário, infantil, gratuito, bobo, sem graça, sem brilho.
Não precisam me dizer que o personagem vai ao banheiro evacuar. É óbvio que ele faz isso se for um humano - ou um ser vivo do reino animal - saudável e normal. Não é isso que faz uma obra ter maturidade!

O que me espanta foi Lewis já ter dito isso naquela época. Parecia até que ele estava prevendo que a tendência era piorar... MUITO!

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Eu não vejo problema, como disse, em ter as cenas quando elas fazem sentido, são necessárias e tal... meu problema é com as coisas gratuitas, colocadas ali só pra atrair público tarado. E, o pior, esse público começa a sair da toca e pagar de moderno, descolado e até 'correto'. Se torna o novo padrão a ser seguido. Se você não gosta dos citados e outros do gênero... "ah, é um(a) recalcado(a), pobre coitado(a)!"

Exemplo: fui toda animada ler "Inverno das Fadas". O livro é uma bela droga, muito mal escrito e sem revisão. Mas em entrevista a autora diz "meus personagens fazem sexo".
Quer dizer, é mais importante colocar p*t@ri@ na história do que escrever bem???

Nossa, descobriu a roda, hein! Porque se ela não colocasse isso, eu ainda acharia que o Harry (Potter) veio com a cegonha ou saiu de dentro de um repolho, e não que ele foi feito a partir do amor de Lily e James.
Lúthien por acaso saiu só da eterna troca de olhares entre Melian e Thingol? NÃO NÉ.

A diferença é que esses autores sabem sugerir as coisas, não precisa JOGAR na nossa cara.

É como a diferença entre uma dança do ventre e o funk.
E é uma pena ver isso contaminando ATÉ o mundo da literatura fantástica.

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Outro exemplo que eu fiquei com MUITO receio de assistir, justamente temendo o nível de violência explícita, foi Hunger Games.

Não só vi como amei!
E por quê?

Porque tanto a autora quanto a produção do filme valorizaram MAIS a crítica social (suuuuper válida) do que a violência, mesmo sendo um tema com a desculpa perfeita para exagerar na mão, tornando-se literal. Só que não. Eles optaram por não chamar o público de "burro". Eles preferiram nos fazer PENSAR a nos fazer ver coisas desagradáveis. Preferiu o conteúdo a uma fórmula barata.

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E cito mais um outro exemplo, de uma fanfic que amo de paixão, chamada Todos Os Nossos Ontens (super recomendada. É de Harry Potter, claro!) em que há uma forte cena violenta, mas que faz total sentido. É chocante, mas é impossível não pensar na situação do personagem, não se colocar no lugar dele e, enfim... não pensar até que sentindo na pele a angústia e a indignação que ele sentia, teria vontade de fazer o mesmo, ainda que não fosse capaz.

ESSA é a diferença entre a cena de sexo / violência que faz sentido, que é necessária para se compreender o personagem, que tem motivo de ser e conteúdo E a cena de sexo / violência que aparece do nada, que está lá só por estar para atrair tarados, mulheres mal resolvidas com a própria vida (e com conceitos de amor, vida e morte completamente distorcidos) e playboys porradeiros.

2 comentários:

NaiaraAmeba disse...

Cris, tinha lido seu post a séculos, mas ainda não tinha tido tempo de comentar adequadamente. Só fiquei de férias da faculdade hoje (Deus é pai), e agora só tem o trabalho para tirar meu tempo de coisas felizes! Enfim, passemos a comentar o post em si.
Sabe o que eu acho péssimo, e por isso adorei ver isso no texto do Lewis? Essa diferença estúpida que o povo faz entre coisa de adulto e coisa de criança. Para mim, maturidade você dá encima da reflexão que faz sobre a coisa, não pelo "conteúdo". Você pode fazer uma coisa com anões e duendes muito mais séria do que com personagens humanas adultas e crescidas que se dizem sérias.
Para mim, quem faz essa diferença entre infantil e adulto esquece que, para ser adulto, você tem que ter sido infantil. É a mesma coisa de quem, por que "cresceu" acha que não pode mais se divertir e fazer bobeira. Sim, você tem que ter responsabilidades, sua vida muda, mas nem por isso você vai deixar de rir de uma piada boba ou de assistir, e gostar, de filmes infantis. Ás vezes, inclusive, pelo mero prazer de não ter que pensar dos 522 significados ocultos da coisa toda.
Quanto ao Martin, sei que você detesta, mas eu adoro. Uma defesa que eu tenho a fazer sobre ele, por mais que super entende e aceite muito bem o fato de você não gostar ( uma coisa que me dá agonia é gente que não aceita pessoas com o gosto diferente. Você achar bom ou ruim não significa que seja bom ou ruim, e nem tem que vincular o mundo a sua opinião, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa ), é que nunca vi ele chegar para fazer um comentário do tipo "meus personagens fazem sexo". O argumento dele para o livro foi fazer algo que ele não pode fazer na tv, por limitações de orçamento e tecnologia, tanto que ficou feliz e encantado quando a HBO disse que ia produzir os livros em formato de série. Gosto de GOT porque vejo muito mais do que as coias "adultas", mas uma evolução de certas personagens ótima, e a crueza do Martin, por mais que me deixe puta ás vezes, empresta aos livros um tom que eu considero extremamente necessário.
Quanto a Inverno das Fadas, esse eu quero correr longe pelo que você falou.
50 tons é bobo. Porque acho que a palavra que define a coisa, mesmo que eu também não tenha lido e nem faça muita questão, é somente essa: bobo.
Uma história, para ser adulta, como você bem falou, não precisa de sexo (muito menos se basear em sexo doentio) para ser boa. precisa sim te fazer refletir, ou, no mínimo, te fazer dar uma risada ou duas quando está lendo. Dizer que algo é adulto, e ai, mais uma vez, eu me rendo a genialidade do Lewis, é ser infantil, porque significa que você tem que afirmar aquilo e orar para que as pessoas acreditem. Eu gosto de ser boba e infantil, porque é o que me faz feliz.

Tina disse...

Concordo e novamente cito o exemplo do mestre Tolkien. Há histórias, principalmente no Silmarillion, com excelentes discussões éticas e morais onde os personagens são anões e elfos. A melhor delas, na minha opinião é Túrin. Por outro lado há histórias ridículas com personagens humanos que se dizem adultas, como foi o foco deste post.

Isso também me lembrou agora um episódio do Castelo Rá-Tim-Bum que abordou justamente isso.
Nino começa a se achar muito adulto, coloca roupas sociais em branco e preto, penteia o cabelo pra trás, usa óculos, muda de postura e passa a desprezar os amigos porque agora é adulto demais para ter amigos crianças.
Claro que no final Tio Victor lhe dá uma bela lição de vida.
E isso me lembra também o grande e maravilhoso Albus Dumbledore, que nunca deixou de lado seus gostos, excentricidades e os sorvetes de limão.
E até mesmo Gandalf com seus fogos de artifício.

Pode ver que toda pessoa que se acha adulta demais pra se divertir vive estressada e até mesmo tem sérios problemas de saúde. Relaxar: TODO MUNDO PRECISA.

Bom, sobre o Martin tenho que quebrar sua defesa, pq já vi ele fazer comentário semelhante, sim... e isso acabou me fazendo até ter mais birra dele e em parte motivou esse post (apesar de ser 'antiga'):

“Já era tempo de a fantasia crescer e se tornar adulta”, declarou o autor em entrevista a VEJA. “Sempre soube que um personagem sem dimensão sexual não é completo. O mesmo se dá em relação à violência. As guerras não têm nada de limpo: são feitas de sangue e vísceras expostas. Que credibilidade eu teria se não mostrasse o que ocorre quando a lâmina da espada atinge um pescoço?”.

Olha a "adultez" aí!

Além disso, como disseram numa comunidade que participo, ele nega ser moralista, esse lado "visceral" só aparece nos personagens mais odiosos. Personagens como a mulher do Ned são recatadas, enquanto que a loira nojenta faz tudo e mais um pouco. WTF??? 2 pesos, 2 medidas...

Quando resolvi assistir à série, nem consegui passar da metade da 1ª temp. A gota d'água foi a cena do cavalo. Sinceramente, não enxergo a NECESSIDADE de se coloca esse tipo de coisa explicitamente,seja na TV seja na Literatura.
Como eu disse ali em cima: não precisa me contar que o personagem foi ao banheiro evacuar.

Outro dia até surgiu uma discussão semelhante em uma página do FB de ficwriters, só que era sobre menstruação. Uma menina disse que não precisava dizer que a personagem menstruou naquele dia. Verdade. Explicitamente e sem motivo, desnecessário. Mas dentro de um contexto e bem escrito, precisa. A menstruação está relacionada ao ritual de passagem feminino, à problemas de saúde, mudanças drásticas de humor e sintoma de gravidez. Agora, colocar isso gratuitamente... não faz sentido nenhum.
1 exemplo dessa cena bem colocada é o filme "Meu Primeiro Amor".

Um exemplo de livro com cenas mais adultas que eu AMO DE PAIXÃO é A Última Guerreira. Eu fiquei completamente apaixonada quando li da 1ª vez.
Mas nada ali é gratuito. Há, principalmente, o contexto da cultura das amazonas.

Eu também adoro ser "infantil", se isso significa pros outros apenas ser autentica.
Tenho ojeriza de gente como a Penny, em um episódio da 1ª temp. de TBBT (qnd eles compram a máquina do tempo).
Hobbies e manias todo mundo tem!!! Mas são sempre os dos outros que é ridícula... nunca os deles mesmos.

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