sexta-feira, 5 de julho de 2024

Livro: A Última Guerreira

 Esse livro é muito especial para mim, foi extremamente importante na minha vida em um momento difícil.

Ele foi lançado em 2002 no original e traduzido para o português, publicado pela editora Ediouro, em 2003. Eu o encontrei por acaso em promoção na Americanas em 2005, justamente no começo do meu 1º ano letivo na faculdade de História. Pobre coitada da minha professora de História Antiga, porque eu a infernizei querendo respostas sobre as Amazonas... respostas que ela não podia dar. Pois na época eu ainda não entendia o conceito do gênero de "Ficção Histórica"

Nessa época meu hiperfoco sobre Mitologia Grega e história da Grécia Antiga ainda era muito forte... Então esse livro me conquistou apenas pela capa assim que bati o olho, nem precisei ler sinopse para decidir levar. Eu o devorei e fiquei completamente obcecada pelas Amazonas por meses.

Depois disso, eu nunca o reli, embora tivesse vontade... mas a lista de leitura era sempre muito grande. Este ano eu me programei para reler meus favoritos, então é claro que ele foi colocado entre os primeiros da lista. Mas eu confesso que também estava com um pouco de receio de ao reler quebrar o encanto que ele me causou naquela época, afinal se passaram 19 anos desde então e eu lembrava pouca coisa da história.

Eu fiquei bastante surpresa por ter gostado tanto dele naquela época em que meu repertório e bagagem cultura ainda estava se iniciando. Porque nos anos que se seguiram eu rejeitei qualquer autor (principalmente um certo senhor famoso) ou autora que exagerasse no teor de violência, descrevendo requintes de crueldade... mas isso acontece nesse livro nas cenas de batalha e em algumas outras cenas. É bastante visceral. Ainda assim, provavelmente por um apego emocional, eu não consigo desgostar dele.

A Última Guerreira, de Steven Pressfield, reconta de maneira realista o mito de Teseu e Antíope a partir da visão de outros personagens, entre atenienses e amazonas, e também reconta um pouco da aventura anterior de Jasão e de Héracles / Hércules na terra das Amazonas, quando Héracles enfrentou Hipólita. O foco, porém, é a expedição de Teseu até a terra das Amazonas e, posteriormente, a vingança delas fazendo um cerco em Atenas e quase destruindo a cidade.

É uma leitura bastante interessante por motivos que citarei abaixo, mas não recomendo para todos os leitores. Em primeiro lugar, é uma leitura pesada, densa, demorada. Em segundo, não há final feliz para a maioria dos personagens... é um final bem melancólico, com um típico ar de fim de uma Era que nunca voltará à mesma grandeza que foi um dia. E ele também pode ser confuso no início porque mistura os acontecimentos de 3 épocas distintas e é narrado por diferentes pontos de vistas, sendo que 3 personagens são os narradores principais. E se você não gosta de autores muito descritivos, pule este. Steven descreve até o material das botas das Amazonas (sem exagero), sem contar uma quantidade absurda de nomes que você não vai conseguir decorar e muito vai e vem a diversos lugares sem nenhum mapa para o leitor se guiar (pelo menos nessa edição antiga).




Atualmente os filmes da Mulher Maravilha ainda estão bem frescos nas memórias de todos. E eu me lembro que ao ver o primeiro no cinema eu me emocionei bastante com as cenas iniciais, em especial a cena da praia, porque era a primeira vez que eu estava vendo as Amazonas serem retratadas em live action com a dignidade que elas merecem e lutando em bando, treinando, etc. Mas devo alertar, a quem queira ler este livro, que a descrição que o autor dá das Amazonas da Antiguidade é bastante diferente das Amazonas da DC, que são guerreiras, porém bondosas. As Amazonas de "A Última Guerreira" são impiedosas no sentido mais cru da palavra. São instruídas e inteligentes, mas mantém costumes selvagens, são supersticiosas ao extremo, vingativas, fortes, resilientes e passionais. Tanto a Hipólita mãe de Diana na DC quanto a Hipólita deste livro - aqui retratada como avó de Antíope e Rainha de Paz - são inspiradas na mesma Hipólita mitológica, mas foram retratadas e desenvolvidas de formas muito diferentes.

A história começa com uma mulher apelidada de "Mãe Ossos" (o nome verdadeiro dela só é citado uma vez no livro todo, então a chamarei de Ossos mesmo), já na velhice, contando as histórias do início do que NÓS chamamos de adolescência (lembrando que até o séc. 19 não existia o conceito de adolescência... ou se era criança, ou se era adulta). Tudo começa quando ela tinha 11 anos e sua preceptora, uma "amazona domada" chamada Selene foge e a irmã de Ossos, Europa de 14 anos, também resolve fugir de Atenas no dia seguinte. Antes da fuga, Selene segue a tradição de sua terra, e conta às duas meninas o seu testamento. Por isso o início do livro é arrastado e confuso, com Ossos fazendo o seu próprio relato de vida e intercalando com o testemunho que ela ouvira de Selene. E Selene conta desde o mito da criação, segundo a visão das Amazonas, e os costumes delas (que nos soam muito estranhos), passa por sua infância, relata brevemente como se tornou 'escrava' em Atenas e depois volta para contar desde o início os acontecimentos que deram origem à inimizade delas com os homens de Atenas. Enquanto isso Ossos vai também relatando que é levada em uma expedição com os homens à terra da Amazônia (como é chamada no livro e nada tem a ver com o Brasil) para recapturar Selene e resgatar Europa. No meio disso tudo, o Príncipe Ático, que lidera a missão, pede à Dâmon (tio de Ossos e Europa) que conte o seu relato da primeira expedição (a que deu origem ao conflito). E assim Ossos vai intercalando os relatos de Selene e Dâmon, capítulo a capítulo, e alguns outros personagens também fazem contribuição aqui e ali. No miolo do livro a expedição do "presente" (para encontrar Selene e Europa) fica esquecida, e o foco se torna apenas os acontecimentos de cerca de 20 anos antes e no final do livro - quando acaba o relato do cerco a Atenas e ocorre a captura de Selene - Ossos volta à relatar a missão e o que aconteceu dali em diante até o fim de sua vida - o momento realmente presente em que ela está com suas filhas e netas.

Esse último parágrafo ficou confuso?
Pois é exatamente essa a sensação lendo o livro, principalmente na primeira vez.


A história é claramente sobre um choque cultural, levado à consequências extremas: o modo de vida das Amazonas x o modo de vida de Atenas. Uma das melhores passagens é justamente um debate entre Teseu e Antíope sobre isso e no final nenhum dos dois ganha, pois ambos mostraram que cada cultura tem suas vantagens e desvantagens. Os gregos, aqui, nem tinham a intenção de interagir com as Amazonas, mas devido a imprevistos da viagem no mar são forçados a parar para pedir ajuda. Aí começa a perdição de todos. Quando os gregos presenciam uma batalha das Amazonas contra citas, eles ficam chocados com a selvageria e os excessos de violência, a carnificina cometida por elas. A tal ponto que só querem deixar o local e voltar para casa em paz... Mas o coração de Antíope havia sido conquistado e isso as Amazonas não puderam perdoar.

Na figura de Eleutera vemos algo que é extremamente atual: a manipulação de informações por parte de quem está no poder para induzir as atitudes de uma massa enfurecida e que só se tornou enfurecida por receber informações distorcidas e mentirosas por parte de sua comandante. Esta comandante, Eleutera, por sua vez, age por despeito, rancor e vingança... e é a sua insensatez, egoísmo e fúria cega que acaba levando seu povo ao desastre. E, mesmo anos depois, vendo as consequências de seus atos, ela não dá o braço a torcer. Não nos parece familiar nos dias de hoje?

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